O
professor de Cultura Visual referiu na aula que todos os seres humanos usam uma
máscara. Não uma máscara cirúrgica, como aquelas que agora nos habituámos a ver
nos outros, mas uma máscara cultural. Eu, além destas duas máscaras —
uma física (material) e outra figurada —, penso que transportamos connosco muitas
outras.
Cada
conhecido, cada pessoa com quem nos cruzamos, coloca sobre o nosso rosto uma
máscara. Nela, vai pintando a imagem que cria de nós, aquilo que acredita que nós
somos. Fá-lo através das experiências que partilha connosco, e à medida que nos
conhece melhor. Não podemos retirar estas máscaras e, de cada vez que nos
cruzamos com um conhecido, a máscara que ele pintou para nós cobre-nos o rosto,
e é inútil escondermo-nos. É impossível, para os que nos rodeiam, verem-nos sem
a máscara. É impossível para eles compreender apenas o
nosso rosto, sem nada que o adorne.
Todas estas máscaras escondem inevitavelmente o mais íntimo de nós. Escondem o que escapa à maioria. Escondem o que simplesmente somos. É impossível tirarmos estas máscaras que os outros nos colocam, e até acabamos, inconscientemente, por os ajudar a pintá-las, porque lhes desvendamos pequenos pedaços de nós.
Somos
forçados a usar muitas máscaras ao longo da nossa vida e é angustiante pensar
que cada pessoa executa uma delas com uma imagem diferente de nós, que pode não
corresponder ao que desejamos. Aliás, apercebo-me agora de que, talvez, também
nós criemos uma máscara para nós próprios. O mais íntimo de nós, o eu nu,
ninguém o conhece. Ou talvez não exista mesmo.
O
que somos, afinal? Alguém o sabe? Quando sobrepomos todas as máscaras que os
outros executaram de nós, encontramos alguma ordem, algum padrão que nos
defina? Sinto que mudei tanto, e tantas pessoas pintaram imagens de mim que não
eram as finais! Mas também eu própria criei a minha máscara, que pode não
coincidir exatamente com os traços do meu rosto, e uso-a constantemente. Posso
afirmar com certeza que sou verdadeiramente alguma coisa? Ou será que sou tudo
o que pintaram de mim, todas as máscaras em simultâneo que para mim criaram, e
também a minha? Talvez sim, e, nesse caso, não me posso definir. Sou muitas
coisas diferentes, em muitos tempos diferentes e em muitos locais diferentes.
Que belo carnaval, este que nunca para e que dura toda a vida.