quinta-feira, 24 de dezembro de 2020
Marcas de uma crença
quarta-feira, 23 de dezembro de 2020
Deixou de ser possível para mim trocar de linha no metro do marquês sem ficar maldisposta e desinspirada. Sem me sentir empobrecida com a (não)interação com um mundo sem texturas reduzido ao consumo…
E o espantoso é que já falei com muita gente que nem reparou na mudança: nos dois écrans publicitários gigantes, com vídeos que me invadem com uma agressividade da qual só consigo escapar se fechar os olhos. É uma poluição visual que domina completamente o espaço, não deixa momentos de calma, mas a sociedade está comercializada a um ponto que as pessoas encaram com naturalidade o papel de consumidores que lhes é imposto ininterruptamente, e não reparam em como a margem para sair dessa relação de consumo é cada vez menor.
Estes écrans impõem que no espaço público deixem de existir indivíduos, que reparam no sorriso de uma criança, que se exasperam com o padrão de uns azulejos, que sonham a partir de um olhar…, para passar a existir apenas consumidores estereotipados, cuja atenção é dirigida pendularmente do trabalho para o consumo.
O discurso publicitário, pela sua necessidade de comunicação instantânea, precisa de recorrer a representações reconhecíveis, a estereótipos, que homogeneízam a paisagem urbana que deveria pertencer a todos em liberdade, e não ser dominada de forma tão brutal por valores comerciais.
Fico indignada com esta mercantilização e privatização do que devia ser público. E principalmente, as mensagens comerciais, para além de colonizarem o espaço físico e visual, colonizam também o espaço ideológico, numa hegemonia despótica que põe em causa o espaço público enquanto espaço democrático.
Vénus
Já faz dias que tento encontrar tema para este pequeno desabafo que convosco partilho. Tem sido complicado, confesso. Desde que tudo isto começou, tornou-se complicado para mim exprimir-me, fazer-me ouvir, e isto, sobretudo porque se tem tornado igualmente complicado pensar. Dou por mim jogada em pensamento nenhum, parece impossível, mas juro que é verdade. Tento concentrar-me e não consigo pensar em nada. Algo como estar fechada numa caixa grande, sentada, com uma tela branca à minha frente, e não existem distrações. Não há distrações, não há pensamentos, não nasce nada, e eu existo, apenas existo. Confesso ainda que durante este últimos meses, apesar de ter sido complicado, tenho tentado estudar e perceber uma parte oculta da minha personalidade. Talvez não oculta assim, mas que de certa forma ignoro, ou penso não me relacionar com ela. Como se uma parte do meu corpo viesse ter comigo umas vezes, e noutros dias desaparecia, como se já nem fizesse mais sentido. A essa grande carraça que carrego, dei nome de Vénus. Vénus é meu alter-ego. Vénus, que sou eu, (mas não sou) é uma mulher promiscua. Vénus é quente. Vénus é aventura e liberdade. Eu não. Eu sou Pura. Vénus não tem horários, nem compromissos, nem deve explicações. Eu tenho. Adoro Vénus. Queria ser como ela. Mas dou por mim a julga-la, por vezes.
Em meus trabalhos, tento sempre fugir destes temas. A mulher, o homem, os seus papeis, as suas posturas, o feminismo, o existencialismo. Enfim, todos os "ismo's". Perseguem-me.
Pela Janela do Quarto
Pode-se dizer que, em retrospectiva, 2020 foi no mínimo, um ano caótico para todos... o começo de uma década que que deveria ser memorável, e de certa forma foi, surpreendeu a todos. Ficamos presos dentro de casa durante meses, houve muitos falecimentos, e uma nuvem de negatividade pairava sobre as pessoas. Pelas janelas dos quartos observávamos o tempo passar, florestas na Austrália e Brasil eram queimadas, presidentes foram eleitos, mega-eventos foram adiados, a questão refugiada foi ignorada, e a economia mundial sofreu sua maior pancada este ano. Foi um ano extremamente logo paradoxalmente curto.
Acredito que 2020 deixou muitos decepcionados consigo mesmos, projetos foram adiados por 6 meses, depois por até um ano, trabalho e aulas acontecendo via computador e impossibilidade de sair de casa contribuíram para o constante sentimento de insatisfação pessoal e tédio absoluto. As taxas de depressão e suicídio aumentaram pavorosamente. A janela virou a TV dos sobreviventes, e tudo que ia passando lá fora tornou-se digno de registro. Muitos olhavam para fora pois ao se verem obrigados a olhar para dentro não conseguiam. Se em algum momento alguns tiveram a sorte de encontrar com amigos, já não tinham nada para falar sobre, e se tinham era coisa pouca, o assunto morria, e logo voltava-se para assuntos como a vacina ou até mesmo as séries que estávamos assistindo compulsivamente nas plataformas de streaming. O ano, que passou pintado de branco, chega ao fim, e ao olhar nossos reflexos na janela do quarto nos perguntamos o que fizemos de bom, o que faremos ano que vem, etc. Pensamos sobre o rumo da humanidade, sobre nosso progresso pessoal, nos cobramos grandes projetos, e conclusões para eles. Muitos fizeram grandes jornadas de conhecimento próprio, muitos tiveram choques de realidade, e muitos ficaram acomodados presos na inércia da quarentena. 2020 definitivamente não foi o ano das pessoas ambiciosas, só sobreviveu a este ano quem ficou deitado no sofá, sem pensar muito.
A pergunta que trago este ano é a seguinte; o que mudará em 2021 além do número? Será que sobrevivera ao proximo ano quem passou por esse? Ou sofreremos essa seleção natural? Que ser tipo de ser humano 2020 criou, e que sociedade será seu fruto em 2021.
Vitória Brinker Cunha
terça-feira, 22 de dezembro de 2020
O corpo como reflexo do ego
A problemática do eu e do corpo está presente na obra de Lacan desde os primeiros momentos de sua trajetória pela Psicanálise. Por meio da elaboração do registo do Imaginário e do esquema conceitual proposto pelo estádio do espelho, ele afirma a importância da imagem do corpo próprio na formação do eu. A referência ao corpo também está presente de forma recorrente ao longo de sua obra, sofrendo reformulações correlativas às retificações que ele introduz. Entretanto, na esteira de Freud, o corpo ao qual ele se refere não é o corpo biológico. O corpo para Lacan é o corpo marcado pelo significante e habitado pela libido, corpo erógeno e singular. Corpo de desejo e, portanto, de gozo, dimensões que certamente contribuem para repensar a problemática do corpo em Psicanálise à luz da nova perspetiva da linguagem.
É importante dizer que o Real lacaniano não é o mesmo que realidade. Para
Lacan o Real é o impossível, pois ao estarmos a dizer que algo é real é necessário
um sentido que, por sua vez, é função do Simbólico e é sempre Imaginário.
O simbólico é o sistema que ordena, é a função do símbolo e também da
linguagem, só a partir dele é que se pode ordenar o Real e o Imaginário. O
imaginário, muitas vezes assumido como ilusão, trata-se da relação do sujeito consigo
próprio e a sua imagem.
Segundo Lacan, o
Imaginário será o lugar do Eu. Onde este viverá constantemente enganado por uma
imagem que acredita ser o que não é, devido aos efeitos ilusórios e
engodativos. O registo do Imaginário corresponde ao ego do sujeito. Tal como
Narciso, o sujeito que se ama e, ama o reflexo de si mesmo no outro. Esse
reflexo projetado no outro e no mundo, é a fonte de amor, paixão e desejo de
reconhecimento, mas também da agressividade e competição. Por possuir um
caráter primário, no sentido de antecessor, todas as identificações serão
imaginárias em qualquer situação. Essa estrutura sempre se alimentará da
perspetiva que o outro tem sobre nós, que conduzirá o desenvolvimento do Eu a
partir de identificações ideais e não reais.
Segundo
os ensinamentos freudianos, há um estreitamento entre corpo e inconsciente, se
Lacan nos diz que "o inconsciente é estruturado como uma linguagem",
então é possível dizer que existe uma aproximação entre corpo e linguagem.
Podemos interrogar, o que o corpo é capaz de suportar em função da imagem?
Esclareçamos que, ao introduzirmos a palavra "suporte", pensamos no
sentido de sustentar, como por exemplo, "a linguagem dá suporte à imagem
do corpo", como também em suporte associado a aguentar, sofrer, "o
sujeito suporta maltratar seu corpo em função de sua imagem".
Vejamos como
exemplo as imagens publicadas nas redes sociais, falamos nas imagens de corpos.
Procura-se mostrar corpos que passem ideias de perfeição e desejo. Mas será que
estas imagens são reais? A imagem, antes de ser capturada, é encenada: escolhe-se
o melhor cenário, um angulo que realce as curvas do corpo, uma roupa especificamente
usada para aquela foto, etc. Ela é construída com o intuito de passar uma
determinada mensagem e conceitos.
Pensar o corpo,
do ponto de vista do registo Imaginário de Lacan, implica levar em conta a forma
como a imagem do corpo próprio a partir do outro marca a constituição subjetiva
e a imagem assumida pelo sujeito. Refere-se à imagem que o sujeito quer passar
de si mesmo.
O corpo está enraizado no imaginário,
como testemunha a montagem lacaniana. Aparece uno, mas isto não faz identidade.
A própria imagem que o fixa inscreverá uma dessemelhança, que impede o sujeito
de tomá-lo como corpo próprio.
O corpo do ponto
de vista do Real seria sinônimo de gozo, definido não como organismo, mas como
"pura energia psíquica, da qual o corpo orgânico seria apenas a caixa de
ressonância". Além de, nestas imagens, estar claramente presente um corpo,
a ideia não é mostrar uma corpo mas sim um conjunto de símbolos de modo a
passar mensagens para o público.
Por fim, o
Simbólico aponta para a relação que se estabelece entre fala-linguagem-corpo. Ele
diz respeito ao corpo marcado pelo simbólico, no qual as diversas partes podem
servir de significantes, isto é, ir além de sua função no corpo vivo. Como já
vimos anteriormente, as imagens das redes sociais são encenadas propositadamente
para conterem um serie de conceitos e mensagens incorporados e não para
mostrarem o seu corpo como um organismo, pelo seu contexto.
Concluímos assim que
para refletir sobre a veracidade das fotografias mostradas nas redes sociais,
ou seja, para explicar o Real torna-se necessário mencionar o Simbólico e o
Imaginário. Temos em atenção o corpo e como ele pode assumir outros significados
dependendo do contexto que lhe dão.
Neste exemplo, o
corpo assume significados e deixa de ser um objeto biológico. Passa a ser a
imagem do ego do sujeito.
Com Lacan, evidencia-se
a função de captura que a imagem especular exerce e as consequências do facto
de que só se tem acesso ao corpo pela sua forma imaginária. Podemos verificar
que o corpo é necessariamente definido em relação à falta pela imagem do corpo
que inscreverá uma dessemelhança em relação ao próprio sujeito.
Verificamos que partindo
da ”fase do espelho”, uma absorção progressiva da imagem na função significante,
o que leva à radicalização da relação do significante com o corpo. Se, por um
lado, podemos discernir o gozo vinculado ao júbilo da imagem no espelho, por
outro, temos uma operação contínua, que inscreve na carne as marcas que serão
significadas a posteriori pelo sujeito: "a relação especular vem
a tomar seu lugar e a depender do fato de que o sujeito se constitui no lugar
do Outro, e de que sua marca se constitui na relação com o significante".
DOIS MUNDOS
Saussure apresenta-nos “dois mundos”. O mundo natural - onde nascemos e o mundo dos significados – ao qual vamos acessando, aos poucos, e do qual não podemos voltar.
Transgredimos
de um mundo para o outro, através da linguagem e da interação com a comunidade onde
estamos inseridos.
Esta
distinção, apresentada por Saussure de uma forma tão simples, foi uma das
primeiras questões que abordámos nesta cadeira, e que, para mim, parece tão
fundamental para compreender o pensamento dos restantes autores.
Dentro
deste tema, falámos como os animais podem constituir sociedades, pois podem
organizar-se socialmente de determinada forma, mas essas mesmas sociedades não
são culturais, pois um grupo de elefantes não tem comportamentos drasticamente
diferentes de um outro grupo que se encontre num outro ponto do globo.
Já as sociedades
humanas, mudam, a vários níveis, consoante o local e a época onde se encontram e essas
alterações não são necessárias, ou seja, poderiam ser de outra forma
(arbitrariedade).
Para
mim, este foi um ponto importante, porque, por vezes, como seres culturais que
somos e rodeados de objetos manufaturados, imagens que reproduzem o real e
narrativas construídas podemos esquecer que, primeiro existe o que é natural, e depois, por cima, vamos individualmente e em conjunto acrescentando camadas de
significados.
Uma
ideia curiosa que explica muito bem o lugar “estranho” e de fronteira que ocupamos, ouvi-a de
um poeta cujo nome não me lembro:
"Os Humanos compreendem muito bem, tanto as máquinas, como os animais, mas se um dia os Humanos desaparecessem, os animais não ligariam nada às máquinas."
(Sendo que leio, neste contexto, "maquinas", como tudo o que é construido e não natural).
Escrever
Eu não gosto de escrever. Escrever para mim é anti-natura. Gosto muito mais do exercício oral porque não tenho de me preocupar em organizar o pensamento e mais dificilmente reparam na minha construção frásica. Talvez seja porque leio pouco, pelo menos é o que me dizem...não sei. O que sei é que não gosto de o fazer. Obviamente que há situações em que sou obrigada a fazê-lo, como agora, mas custa-me e gostava de perceber porquê. Ou melhor, gostava de entender como é que é gostar de escrever e como é que se escreve bem ou como se arranja ideias para a escrita. Nunca poderia escrever um livro. Sempre tive o problema contrário à maioria das pessoas quando tinha uma composição escolar para fazer, escrevia sempre o mínimo de palavras pedidos. Sou apologista de tópicos, talvez tenha um pensamento mais matemático, é a desculpa que gosto de dar. Eu considero-me uma pessoa curiosa e acho que uma pessoa curiosa tem, durante a vida, mais mudanças de opinião, talvez um dia eu aprenda a adorar escrever. Ler é algo que gosto muito mais de fazer, não leio muito, aliás, durante a minha vida não li muitos livros comparando com as gerações mais velhas ou com certas pessoas que conheço, mas gosto de ler, tenho sempre um livro. O problema é que leio devagar e preciso de pausas, mas raramente desisto de um livro. Talvez isso seja uma das razões para não gostar de escrever, devo ter pouco vocabulário, sinto que sou repetitiva a expôr as minha ideias na escrita. Agora não sei mais o que escrever. Talvez o meu raciocínio não tenha introdução, desenvolvimento e conclusão.
Aparência e amor
"Eu quero ir para o atletismo", "Não podes, vais parecer um rapaz"
A simplicidade da cura e a incerteza da doença
Na última semana tivemos duas notícias completamente opostas relativamente à pandemia que colocou em suspenso muito do que queríamos fazer: a vacinação já começou em alguns países (e já tem data para começar em Portugal); e foi descoberta uma nova estirpe do vírus, sobre a qual sabemos muito pouco. Para mim foi interessante pensar na forma como estas duas notícias representam duas ideias opostas no esquema maior da pandemia: a cura contra a doença. E quais as suas representações e implicações na nossa comunicação.
Rudolf Arnheim, na obra Visual Thinking (1969), afirma que a relação da imagem com o real assenta nos seguintes valores desta, que são três: um valor de representação, um valor de símbolo e um valor de signo. Poucas imagens conseguem ser representar apenas um destes valores. Tomemos como exemplo um sinal de trânsito, como o sinal de STOP: tem um forte valor de signo (pela arbitrariedade da relação entre os elementos plásticos do sinal e o seu significado); tem também um forte valor simbólico (na obra A Imagem (2005), Jacques Aumont afirma que o valor simbólico de uma imagem é, acima de tudo, a aceitabilidade social dos símbolos representados);e tem um forte valor de representação (porque são a codificação de uma norma socialmente aceite e inscrita na lei de um país e/ou cidade).
Toda a simbologia e imagem à volta da vacina é muito simples. Não se pode dizer que é uma questão de tempo ou de habituação à existência das vacinas porque os vírus existem no nosso quotidiano há mais tempo. É mais a exploração da certeza versus a incerteza: uma vacina, a imagem de uma seringa com um conteúdo milagroso, que nos irá proteger dos males e da incerteza que os vírus nos trazem.
No caso do coronavírus não podemos dizer que exista uma imagem que, contendo os três valores já referidos, consiga ser o significante imagético para o significado do coronavírus. Conseguimos, sim, atribuir este papel a uma galeria de imagens, que representam as diferentes caraterísticas e consequências associadas ao COVID-19: as máscaras, o afastamento/distanciamento social, as ruas e cidades vazias, e a própria "caraterização" do vírus, que até já teve direito a diferentes desenhos e caricaturas que representassem sempre a sua malvadez (às vezes com sobrancelhas franzidas e normalmente de vermelho).
É curioso analisar que, mesmo em comunicação, a complexidade e a multiplicação de hábitos, normas e imagens a que associamos a pandemia contrasta em muito com a simplicidade da vacina. As próprias regras de confinamento parcial ou só aos fins-de-semana, que mudam também consoante o risco de cada conselho, não conseguem convergir numa única solução que as represente. Até os órgãos de comunicação social (nomeadamente as televisões) conseguem produzir muito mais notícias sobre o vírus e os seus efeitos do que sobre a sua cura. Porque a cura não é essa convergência: é a substituição, a troca de uma imagem por outra.
Se trocamos as imagens, trocamos os significados. Talvez com o começo da vacinação a hiper-produção de notícias sobre a incerteza seja substituída pela simplicidade da cura.
Já não durmo faz hoje cinco dias. Chego à noite com sede de descanso e é sempre cedo que me deito. Fecho os olhos e a minha cabeça não pára “será que tranquei o carro?”, “esqueci-me de devolver aquela chamada outra vez… E de pôr a máquina a lavar”. Em seguida vem mais um episódio de: Vamos Lá Relembrar Todas As Vezes Que Respondi “Boa Tarde” Quando Me Disseram Bom Dia ou Disse Acidentalmente “obrigada para si também” Quando o Empregado Me Disse Bom Apetite. Depois de uma grande luta comigo mesma e várias tentativas falhadas de respirar fundo e relaxar, são outra vez seis da manhã mas lá adormeço. Corro no sonho, acordo cansada. São oito da manhã quando me levanto para abrir os emails que já tinha aberto enquanto sonhava.
Passo o dia com o bater constante de duas pedras na cabeça e arrasto-me como fantasma pelas minhas tarefas naquilo que me parece um só dia infindável que dura faz agora uma semana. Tenho usado todo o meu tempo livre para ver filmes e pensar. Às vezes, no escuro, depois de tantas horas seguidas a viver em pequenos universos criados por artistas, sinto-me como se não tivesse mais certezas de nada. Vivo em períodos de (circa.) duas horas a possibilidade de ser tantas pessoas diferentes que levam vidas tão opostas! Fossemos nós peixes em memórias conscientes de ser humanos. Concluo que a realidade é pouco mais do que a nossa percepção da mesma. Posto isto, há algo de tranquilizante em saber não estamos sozinhos e que já se pensou muita coisa e se fez muita arte sobre as coisas que se pensou. Refugio-me no cinema por enquanto já que não consigo dormir (de momento recomendo o Nimas, no Saldanha, com o ciclo de cinema de Wong Kar Wai).
UM DIÁLOGO SOBRE UM MONÓLOGO
segunda-feira, 21 de dezembro de 2020
Plataformas de Streaming
Lembro-me dos tempos em que via televisão e era algo do meu
dia a dia, lembro-me também de quando apareceram as plataformas de streaming
como a Netflix e a HBO, por exemplo. Desde que estava no secundário que oiço
falar destas plataformas, a certo ponto já toda a gente do meu “círculo” de
amigos as usava, eu por outro lado ainda passei bastante tempo sem aderir a
elas. Via as séries, filmes, etc… como sempre vi, na televisão.
Apesar de antigamente só dar para ver na televisão aquilo que
estava a dar no momento, a menos que se gravasse especificamente esse programa,
no secundário já não tinha esse problema, se quisesse ver alguma coisa que
tivesse dado anteriormente poderia sempre voltar atrás e vê-las à mesma, logo a
meu ver, na altura, estava feliz com o que tinha.
Foi talvez quando já tinha 18 anos que decidir aderir pela
primeira vez a uma plataforma deste tipo, neste caso foi a Netflix, aderi ao
período de teste que eles têm de 1 mês pois estava curioso para saber a razão
do porquê de toda a gente estar a falar constantemente do Netflix e de outras
plataformas do mesmo tipo.
Nesta a Netflix já tinha cerca de 118 milhões de subscritores
e continuava a crescer a um ritmo muito rápido, percebi que o alarido todo
sobre a Netflix não existia só no meu grupo de amigos, mas sim no mundo
inteiro.
Em 2020 a Netflix já tem cerca de 195 milhões de
subscritores, por isso claramente ainda não deu sinais de abrandamento nos
próximos tempos.
Durante o período de teste apercebi-me que o facto de ter “todas”
as séries e filmes (pelo menos pensava eu na altura) na palma da minha
mão(telemóvel) alterava completamente a dinâmica que existia entre mim e as
séries/filmes. Dei por mim a poder ver o que me apetecia, quando me apetecia,
percorrendo séries atrás de séries, ao pequeno-almoço, no comboio, a caminho da
universidade, ao jantar, etc… dei por mim a utilizar esta plataforma mais do
que qualquer uma que tinha, pois realmente tinha uma facilidade que a televisão
não tinha, pois não tinha como a levar para todo lado, e mesmo que tivesse, não
tinha o conteúdo que estas plataformas têm que se pode ver quando queremos.
Digamos que já não me sinto aborrecido durante as viagens que faço para a
universidade, onde vou sozinho e antigamente dava por mim sem nada para fazer.
Digamos que obviamente, ao acabar o período de teste, aderi à
plataforma e continuei a utilizá-la até hoje.
No meio de tudo isto notei apenas um problema, que começou a
aparecer-me há não muito tempo, dei por mim já a sentir que tinha visto tudo o
que me interessava no Netflix, foi aí que me apercebi que o conteúdo apesar
tudo ainda é bastante limitado nestas plataformas, entre os contratos e as
compras que têm de fazer para ter os direitos de ter estas séries e filmes nas
suas plataformas acabava por haver uma guerra entre todas estas plataformas,
por isso dou por mim agora a ter de aderir a outras plataformas deste tipo como
a HBO ou a Amazon prime, para ter acesso a muitas outras séries e filmes que me
interessa, o que me acaba por chatear um bocado devido a ter de aderir a todas elas,
a maioria pagas, passar pelos mesmos processos, etc..
Pode ser que no futuro as coisas mudem um bocado e isto esteja
mais facilitado, seja parceria entre as próprias plataformas de maneira a
facilitar as transições entre utilizadores ou outras coisas, quem sabe…
Se há uma coisa que sei, é que apesar de sentir que já vi
muito do conteúdo que me interessa nestas plataformas, fico contente por ter
aderido a elas, pois facilitam-me muito tudo no que toca a esta atividade de
lazer que sempre me interessou muito.
Preguiça vs Motivação
Nos últimos meses vivemos “presos”, estamos em tempo de pandemia e o local mais seguro onde podemos estar é nas nossas próprias casas.
A nossa casa transmite-nos
sensações positivas tais como conforto, bem-estar, tranquilidade e segurança.
No entanto estar 24 horas por dia, 7 dias por semana em casa pode causar dois
tipos de sensações: pode tornar-se aborrecido e cansativo, ou por outro lado
bastante agradável e motivacional.
Em tempos de pandemia o tempo
livre das pessoas aumentou. O trânsito, os almoços demorados, os convívios e
festas entre muitas outras atividades diminuíram radicalmente nas vidas de cada
um, adicionando as pessoas horas livres, ou seja, horas onde o indivíduo não
tem qualquer tipo de atividade para fazer.
Este tempo livre acrescido,
pode, tal como a permanência excessiva em casa, causar aborrecimento ou por
outro lado motivação e felicidade, dependendo de cada pessoa e da sua
personalidade.
Numa primeira perspetiva, o
tempo extra e a prolongada estadia em casa podem causar preguiça. A preguiça é
inimiga de produtividade, existe uma falta de disposição por parte do individuo
para realizar as suas tarefas. Este sentimento acentua-se quando a atividade
não é do interesse do sujeito.
Por outro lado, numa segunda
perspetiva, passar o dia em casa e ter muito tempo livre pode causar o
sentimento inverso, a motivação. Com motivação as diversas tarefas são feitas
com mais empenho e de maneira mais eficiente. Com mais tempo o sujeito pode
realizar outras atividades do seu agrado, disfrutando de momentos de lazer para
si próprio. Esta motivação pode surgir pelo facto do indivíduo se sentir bem
com o ambiente ao seu redor.
Em suma, as duas sensações
que podem ser causadas pela vida que vivemos atualmente estão diretamente
relacionadas com a criatividade de cada pessoa. Quanto mais criativa mais
ideias têm, com essas ideias as pessoas descobrem novos gostos e novas paixões,
fazendo algo que gostam, desta maneira o sentimento de preguiça, cansaço e
falta de proatividade vai desaparecendo.
E se um algoritmo pudesse descobrir a cura para o SARS-CoV-2?
Inteligência artificial (IA) é um
conceito que cada vez mais está presente nas nossas vidas. Todos os dias vários
aspetos do nosso quotidiano são influenciados por algoritmos de inteligência
artificial, muitas das vezes sem nos apercebermos. Por exemplo, sempre que
usamos serviços como Netflix, YouTube, Spotify, HBO, Amazon, entre muitos
outros que existem, o sistema de recomendações destes serviços foi desenhado
com base em sistemas de inteligência artificial.
Sempre tive um grande interesse
pela área da tecnologia, embora nunca tivesse investigado muito sobre
inteligência artificial. Apenas há cerca de um ano é que comecei a demonstrar
mais interesse nesta área, quando me foi oferecido o livro: A Revolução do Algoritmo
Mestre. Um livro que aborda a inteligência artificial e a descoberta
de um super algoritmo de aprendizagem automática, evidenciando não só as suas
vantagens, como também as suas desvantagens.
A Revolução do Algoritmo
Mestre, é uma obra da autoria de um professor e investigador português em
Ciências da Computação na Universidade de Washington. Este livro é um dos dois
livros que Bill Gates recomenda a qualquer pessoa interessada em inteligência
artificial. Pedro Domingos refere que o mundo será muito diferente após a
descoberta do super algoritmo, a que chama de algoritmo mestre, vai ser
possível fazer coisas que hoje não são possíveis fazer. Sendo uma delas curar o
cancro. Pedro Domingos numa entrevista ao Observador diz que os Algoritmos
não substituem os médicos, mas vão torná-los mais poderosos. [1]
Recentemente em março de 2020, um
algoritmo desenvolvido pelo MIT descobriu um antibiótico que consegue destruir
um germe sem cura. Segundo uma notícia da Visão, a 17 de março do mesmo
ano, equipas do MIT, de Harvard e do CSAIL anunciaram que foi possível
descobrir um antibiótico com propriedades curativas inéditas, através de um
sistema de aprendizagem profundo.
Outro caso de um algoritmo de
inteligência artificial que está a ser usado na área da saúde, neste caso, no
combate à covid-19, anunciado há cerca de um mês e meio, refere que uma equipa
de investigadores do MIT desenvolveu um sistema de inteligência artificial
capaz de identificar pessoas infetadas com a covid-19 pelo som da tosse, mesmo
em doentes assintomáticos. Os testes desenvolvidos ao algoritmo tiveram uma
taxa de sucesso de 98.5% em casos confirmados e em doentes assintomáticos, a
fiabilidade dos resultados foi de 100%.
Concluindo, há muitos outros projetos com aplicações na saúde a serem desenvolvidos a nível mundial, quer por Universidades, quer por empresas. Acredito que, até já esteja a ser desenvolvido ou até mesmo usado um algoritmo que possa permitir descobrir uma cura eficaz para o SARS-CoV-2.
Nada é impossível até que se prove o contrário.
Referências:
[1] Observador. Observador On
Time. Acedido em dezembro de 2020 em https://observador.pt/especiais/a-entrevista-ao-portugues-que-bill-gates-recomendou-e-que-diz-que-os-algoritmos-vao-curar-o-cancro/
O valor dos valores
O mundo em que vivemos está cheio do bombardeamento de mensagens
subliminares e uma manipulação psicológica subtil, quase impercetível. Há um
sítio na sociedade ocidental que mais temo. Que engole almas, corrói
espíritos, altera a perceção do tempo, efetua uma profunda e eficiente lavagem
cerebral e mexe com a ansiedade de qualquer ser humano. No caso do caro leitor,
por não se relacionar com a descrição anterior, não ter adivinhado já ao que me
refiro, então informo-o que possivelmente é portador da doença mais comum do
século XXI: o consumismo.
Está certo, o sítio que destrói a minha sanidade mental (e a
de muitos outros) são os centros comerciais. Aliados à indústria publicitária,
constituem a arma mais forte contra o desapego material natural que podemos
observar nos restantes animais. Nós, mamíferos especiais, chegámos ao ponto de
resumir a nossa identidade e felicidade aos objetos que nos rodeiam. Ferramentas
auxiliares do dia a dia tornam-se, em casos mais graves desta doença, parte do
próprio consumidor.
Mas como chegámos a este ponto? Com uma estrutura social que
constantemente nos lembra que precisamos de algo e que esse algo tem imenso
valor.
“Olha só o novo brinquedo que comprei para mim!” diz o
doente adulto enquanto me apresenta com a maior alegria o seu mais recente tablet,
possuindo também outros três funcionais. O diagnóstico é simples: alguém que
compra frequentemente mais dos objetos que já tem consigo; não dá uso a 100%, o
que lhe importa mais e o seu maior valor é tê-lo; tem um cuidado quase obsessivo
para o objeto não ficar desgastado do uso, ou cuidado nenhum porque sabe que
pode sempre substituí-lo; exibe ou fala das novas aquisições como tema de
conversa frequente.
Não o julgo. Aliás, esta lavagem cerebral começa desde tenra
idade em que na época natalícia só se ouve jingles repetitivos de anúncios que
apresentam imagens de imensidões de presentes enquanto soa “brinquedos,
brinquedos eles são o nosso meio de alegria!”. Mentes flexíveis e imaturas
crescem com a influência de que só é melhor quem tem mais, do mais caro.
Os centros comerciais são a materialização desta mentalidade
consumista, e onde ela chega ao seu apogeu de realização. Montras brilhantes e
belas, produtos bem organizados e esteticamente prazerosos, até os odores fazem
parte deste processo!
Aquilo que realmente mexe comigo nestes espaços é que, para além
de ver a obsessão e a falta de humanidade das pessoas que me rodeiam pela
aquisição dos materiais, sinto a entrar na minha mente o desejo de consumir
numa contradição interna de racionalmente ter conhecimento do funcionamento
doentio deste sistema, mas sentir o prazer inevitável em ver tantas coisas
que poder-me-iam servir.
Apanhei do chão 1,20€ que um senhor deixou cair à pressa, segui-o uns metros para lhe devolver as moedas, ele olhou tão surpreso e incrédulo com o gesto perguntando-me “Andou isto tudo para me devolver dinheiro?” e eu pensando “Claro, são pedaços de cobre, níquel e latão que não me pertencem.”. No fim recebi um “Deus abençoe”, por entregar um metal que não é meu. É com agradecimento que recebo a bênção, porém logicamente sei que veio da imprevisibilidade de alguém, das cem pessoas que saíram do barco, tomar a decisão incomum de não ficar com pedaços de metal ao qual atribui um valor ridículo.
É uma reação tão universal
que não me surpreende.
Consumidores lutam por uma televisão na "black friday", Luke MacGregor, 2014 Fonte: https://www.washingtonpost.com/ |
MARX, Karl. O Capital: Crítica da Economia Política,
vol. 1. Moscovo, Lisboa: Progresso, Avante!
"Me-time"
Sempre me considerei uma pessoa reservada e todos à minha volta parecem concordar. À data, o meu círculo de amigos consiste em três outras pessoas. Não tenho dificuldade em criar relações, mantê-las e fazê-las durar é o problema.
Por outro lado, sempre preferi estar sozinha, sobretudo em casa. Trabalhar é muito mais fácil quando sou só eu, a música e os gatos. Por isso, quando este ano letivo começou e a minha irmã voltou às aulas, eu sabia que ia ser muito mais produtiva. As minhas aulas iam ser todas por videoconferência. Eu ia estar sempre em casa. Com mais ninguém durante a maior parte do dia.
E assim foi, ao longo de mais uma série de meses em casa com poucas saídas e quase nenhum encontro com amigos, só eu e os gatos. Criei novas rotinas e hábitos adaptados ao tempo que passo sozinha. Ao fim de cada dia penso no seguinte, procurando quais as horas em que mais alguém vai estar em casa e planeio as minhas atividades de acordo.
Agora aproximadas as férias de Natal, vê-se cada vez mais difícil focar seja no que for. A televisão voltou, o pequeno almoço madrugador, os ruídos no quarto ao lado também. Em suma, a minha irmã voltou. E é triste como a minha primeira reação a esse facto foi negativa. A minha irmã de quem tanto gosto, de quem tanta falta senti durante o primeiro grande confinamento no início do ano, agora vai estar sempre comigo em casa e isso chateou-me.
Pergunto-me quando fiquei egocêntrica? Ou se sempre fui? Pelo menos nunca achei, nunca me o chamaram. Mas está tudo na minha cabeça, atenção. Não me chateio com ninguém, muito menos com os gatos, por estarem em casa, por fazerem "barulho" Isso só me irrita a mim. E agora é o facto de isso me chatear que me chateia.
Antes disto tudo estava constantemente rodeada de outras pessoas, mesmo se contrariada. Participava em projetos, fazia desporto, ia à rua. Tudo o que eu queria de vez em quando era tempo para mim. Chegada a oportunidade, comecei a criar projetos online, a comunicar e trabalhar com pessoas do outro lado do mundo e a fazer algum free-lance. Apesar de ter interações, todas são através de um ecrã que não lhes garante uma forma. Quando apenas penso no que tenho que fazer e imagino os meus projetos, não tenho nada para ver. Os ficheiros são todos em formato digital, as pessoas com quem trabalho não aparecem à minha frente, a maioria nem nunca as vi. Crio as suas imagens na minha cabeça, um mundo meu que não consigo partilhar com mais ninguém.
Diz-se que somos influenciados por quem nos rodeia. Estar demasiado tempo apenas com a minha pessoa influenciou-me de maneira redundante. Eu influencio-me, mas eu sou eu. O foco está todo no eu. Será então que foi demasiado "me-time" a causa de todo este disparate.
Sou uma menina
O que nos faz olhar para um produto e nos sentirmos atraídos por ele? Este desejo de possessão e identificação é algo involuntário, independente de cada um de nós enquanto indivíduos, ou um produto de regras e ideias que nos foram incutidas sem nos apercebermos?
Foi uma pergunta que surgiu e que me deixou apreensiva por ser algo que nunca tinha questionado, e agora que o fazia, parecia absurdo pensar na possibilidade dos meus gostos não serem pessoais, uma ideia assustadora. Afinal que entidade é esta que sempre julguei ser eu?
O mundo é tão diverso e no entanto, esta minha identidade é quase idêntica ao resto das pessoas. Como é que isto é possível? Sendo que sou livre e honesta comigo mesma enquanto construo a minha pessoa, respeitando os meus desejos e vontades?
A minha identidade, começou se a manifestar antes sequer do meu nascimento. Estava eu na barriga da minha mãe e metade dos meus atributos enquanto indivíduo já estavam definidos e resolvidos, sou uma menina. A questão é que associada a essa única palavra de ‘’menina’’, definida pelo meu sexo, estão milhares de concepções que são imediatamente determinadas e delimitadas. À medida que cresço aceito e desenvolvo inconscientemente todas essas concepções, porque nem coloco a hipótese de não o fazer.
Estas concepções desenvolvem-se em redor da “minha” sexualidade que é algo decretado a partir do meu sexo. É à partida inquestionável e molda a minha identidade, que sempre tomei como inerente à minha pessoa. É o normal, e o que está para além do normal soa duvidoso e incorreto.
Mas não consegui de deixar de pensar sobre isto, e comecei a achar injusta a maneira de como idealizo e construo a minha pessoa. Senti uma estranha sensação de sufoco por me aperceber das limitações que definem a minha sexualidade que sempre assumi e nunca ponderei.
No outro dia estava a olhar para a televisão enquanto passavam anúncios. Apercebi-me que maior parte deles eram dirigidos ou para o homem, ou para a mulher, era muito raro aparecer um anúncio cujo público alvo fossem ambos os sexos em simultâneo. Questionei-me do porquê de existir esta espécie de restrição que faz com que as mulheres e os homens se sintam atraídos para produtos que evidenciem a sua sexualidade, no entanto não consegui encontrar uma resposta que me deixasse satisfeita. E porque é que toda a gente se conforma com esta maneira de consumir e produzir o que vai de encontro à sua sexualidade? Porque é que o facto de fugirmos a estas concepções é considerado fora do normal? São questões que me deixam a pensar e às quais ainda não consegui responder.