terça-feira, 22 de dezembro de 2020

DOIS MUNDOS

 

Saussure apresenta-nos “dois mundos”. O mundo natural - onde nascemos e o mundo dos significados – ao qual vamos acessando, aos poucos, e do qual não podemos voltar.

Transgredimos de um mundo para o outro, através da linguagem e da interação com a comunidade onde estamos inseridos.

Esta distinção, apresentada por Saussure de uma forma tão simples, foi uma das primeiras questões que abordámos nesta cadeira, e que, para mim, parece tão fundamental para compreender o pensamento dos restantes autores.

Dentro deste tema, falámos como os animais podem constituir sociedades, pois podem organizar-se socialmente de determinada forma, mas essas mesmas sociedades não são culturais, pois um grupo de elefantes não tem comportamentos drasticamente diferentes de um outro grupo que se encontre num outro ponto do globo.

Já as sociedades humanas, mudam, a vários níveis, consoante o local e a época onde se encontram e essas alterações não são necessárias, ou seja, poderiam ser de outra forma (arbitrariedade).

Para mim, este foi um ponto importante, porque, por vezes, como seres culturais que somos e rodeados de objetos manufaturados, imagens que reproduzem o real e narrativas construídas podemos esquecer que, primeiro existe o que é natural, e depois, por cima, vamos individualmente e em conjunto acrescentando camadas de significados.

Uma ideia curiosa que explica muito bem o lugar “estranho” e de fronteira que ocupamos, ouvi-a de um poeta cujo nome não me lembro:

"Os Humanos compreendem muito bem, tanto as máquinas, como os animais, mas se um dia os Humanos desaparecessem, os animais não ligariam nada às máquinas."

(Sendo que leio, neste contexto, "maquinas", como tudo o que é construido e não natural).