quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Pela Janela do Quarto

Pode-se dizer que, em retrospectiva, 2020 foi no mínimo, um ano caótico para todos... o começo de uma década que que deveria ser memorável, e de certa forma foi, surpreendeu a todos. Ficamos presos dentro de casa durante meses, houve muitos falecimentos, e uma nuvem de negatividade pairava sobre as pessoas. Pelas janelas dos quartos observávamos o tempo passar,  florestas na Austrália e Brasil eram queimadas, presidentes foram eleitos, mega-eventos foram adiados, a questão refugiada foi ignorada, e a economia mundial sofreu sua maior pancada este ano. Foi um ano extremamente logo paradoxalmente curto.

Acredito que 2020 deixou muitos decepcionados consigo mesmos, projetos foram adiados por 6 meses, depois por até um ano, trabalho e aulas acontecendo via computador e impossibilidade de sair de casa contribuíram para o constante sentimento de insatisfação pessoal e tédio absoluto. As taxas de depressão e suicídio aumentaram pavorosamente. A janela virou a TV dos sobreviventes, e tudo que ia passando lá fora tornou-se digno de registro. Muitos olhavam para fora pois ao se verem obrigados a olhar para dentro não conseguiam. Se em algum momento alguns tiveram a sorte de encontrar com amigos, já não tinham nada para falar sobre, e se tinham era coisa pouca, o assunto morria, e logo voltava-se para assuntos como a vacina ou até mesmo as séries que estávamos assistindo compulsivamente nas plataformas de streaming. O ano, que passou pintado de branco, chega ao fim, e ao olhar nossos reflexos na janela do quarto nos perguntamos o que fizemos de bom, o que faremos ano que vem, etc. Pensamos sobre o rumo da humanidade, sobre nosso progresso pessoal, nos cobramos grandes projetos, e conclusões para eles. Muitos fizeram grandes jornadas de conhecimento próprio, muitos tiveram choques de realidade, e muitos ficaram acomodados presos na inércia da quarentena. 2020 definitivamente não foi o ano das pessoas ambiciosas, só sobreviveu a este ano quem ficou deitado no sofá, sem pensar muito.

A pergunta que trago este ano é a seguinte; o que mudará em 2021 além do número? Será que sobrevivera ao proximo ano quem passou por esse? Ou sofreremos essa seleção natural? Que ser tipo de ser humano 2020 criou, e que sociedade será seu fruto em 2021. 

Vitória Brinker Cunha