terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Aparência e amor

"Eu quero ir para o atletismo", "Não podes, vais parecer um rapaz"


"Eu quero fazer desporto", "Não, isso é coisa de rapaz, porque é que não brincas com bonecas?" 


As minhas vontades foram negadas porque não sou um rapaz, então não posso ser feliz. Tenho de brincar com coisas que odeio, ouvir música que odeio, ver programas que odeio, usar roupa que odeio, senão não vou ser aceite e não vão gostar de mim. Foi com esta educação que cresci: viver para os outros, viver de imagens. 

E a personalidade e o carácter?? Acho que se eu fizer desporto, já não tenho nada disso. Sou "delinquente, irresponsável e rebelde".
Posso até ser bem educada e generosa, mas o que é que isso interessa se eu não me visto de "maneira selvagem", não uso maquilhagem e não pinto as unhas, se eu não sou "uma verdadeira mulher"?

Nunca ninguém me ensinou sobre amor. Se alguém realmente gosta de nós, então ela aceita-nos, faz-nos sentir bem por sermos nós e só nos deseja felicidade. "A melhor coisa que podes fazer por alguém que te ama é ser feliz". Mas tive a sorte de conhecer as pessoas certas e de poder observar as "erradas". 

Há sempre uma tendência a querer ser gostado e querer agradar, ter uma boa imagem. E, quando caio nessa tentação, eu digo a mim mesma "nunca poderás ser realmente amada se não fores tu própria" e, nesse momento, eu paro de tentar e relaxo. 

Cresci a ver os rapazes "apaixonarem-se" por uma rapariga que mal conhecem, a namorarem pela aparência e eu pensava "e se ela ganhar uma ruga amanhã? Ou se ela precisar realmente de alguém num momento difícil?". 
Sempre (sempre mesmo) que vejo um casal começo-me a pensar "será que estas pessoas se amam realmente ou estão juntas só por estar". 

Oiço imensas histórias sobre como estão juntos porque têm medo de acabar sozinhos, porque acham que nunca vão encontrar ninguém que realmente goste deles ou delas. 
Um dia, a passar, ouvi uma senhora a dizer "pronto, agora arranjei alguém tão feio quanto eu". 
Estas coisas deixam-me a pensar se é possível realmente amar alguém incondicionalmente ou se isso é só coisa de filmes.