"Eu quero ir para o atletismo", "Não podes, vais parecer um rapaz"
"Eu quero fazer desporto", "Não, isso é coisa de rapaz, porque é que não brincas com bonecas?"
As
minhas vontades foram negadas porque não sou um rapaz, então não posso
ser feliz. Tenho de brincar com coisas que odeio, ouvir música que
odeio, ver programas que odeio, usar roupa que odeio, senão não vou ser
aceite e não vão gostar de mim. Foi com esta educação que cresci: viver
para os outros, viver de imagens.
E
a personalidade e o carácter?? Acho que se eu fizer desporto, já não
tenho nada disso. Sou "delinquente, irresponsável e rebelde".
Posso
até ser bem educada e generosa, mas o que é que isso interessa se eu
não me visto de "maneira selvagem", não uso maquilhagem e não pinto as
unhas, se eu não sou "uma verdadeira mulher"?
Nunca
ninguém me ensinou sobre amor. Se alguém realmente gosta de nós, então
ela aceita-nos, faz-nos sentir bem por sermos nós e só nos deseja
felicidade. "A melhor coisa que podes fazer por alguém que te ama é ser
feliz". Mas tive a sorte de conhecer as pessoas certas e de poder
observar as "erradas".
Há
sempre uma tendência a querer ser gostado e querer agradar, ter uma boa
imagem. E, quando caio nessa tentação, eu digo a mim mesma "nunca
poderás ser realmente amada se não fores tu própria" e, nesse momento,
eu paro de tentar e relaxo.
Cresci
a ver os rapazes "apaixonarem-se" por uma rapariga que mal conhecem, a
namorarem pela aparência e eu pensava "e se ela ganhar uma ruga amanhã?
Ou se ela precisar realmente de alguém num momento difícil?".
Sempre
(sempre mesmo) que vejo um casal começo-me a pensar "será que estas
pessoas se amam realmente ou estão juntas só por estar".
Oiço
imensas histórias sobre como estão juntos porque têm medo de acabar
sozinhos, porque acham que nunca vão encontrar ninguém que realmente
goste deles ou delas.
Um dia, a passar, ouvi uma senhora a dizer "pronto, agora arranjei alguém tão feio quanto eu".
Estas coisas deixam-me a pensar se é possível realmente amar alguém incondicionalmente ou se isso é só coisa de filmes.