sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Máscara da perfeição

    

Acho interessante este tema das máscaras, porque é a única coisa que tem estado na minha cabeça estes últimos 10 meses, sem exagero.

 

            Sempre fui uma pessoa relaxada que lidava bem com as situações do dia-a-dia, isto é, conseguia permanecer calma nas situações mais stressantes ou complicadas. Por natureza, sempre levei tudo na brincadeira e nunca pensei muito, nunca me questionei porquê. Posso dizer que estive sempre em piloto automático (não vejo como algo mau, se tiver uma mentalidade que me traga paz) e até tinha um bom piloto.

            Sendo uma pessoa que adora falar e bastante social, tive a oportunidade de conhecer vários tipos de pessoas, ou posso dizer "vários tipos de máscaras". Antes da quarentena, não achava as máscaras uma coisa boa, achava que ninguém era real. Isto tudo sem perceber que eu própria tinha uma, porque me conhecia tão bem, expressava o que sentia e pensava sem medos, defendia a minha verdade,... eu achava isso real e continuo a achar. Mas não sentia que as pessoas à minha volta diziam o que realmente pensavam, sentiam, acreditavam... e não percebia porquê.

            De todas as máscaras que conheci, a que me fez ficar consciente da minha foi a “máscara da perfeição”. As pessoas que mais tentam ser perfeitas, acreditando que conseguem sequer sê-lo, são as menos reais e, ironicamente, acham-se as mais corretas e mais humanas. O que é contraditório porque o ser humano foi feito para errar e evoluir, então uma pessoa que não erra é humana?

E, depois de ter conhecido imensa gente com esta máscara, o meu mundo ficou um pouco intoxicado, porque essas pessoas tornaram-se a minha realidade. Esta máscara foi a que me fez parar de não pensar, pensando eu que estava errada por ter amor próprio  e fazer o que era melhor para mim.

Achei bastante interessante o facto das pessoas com essas “máscaras perfeitas” serem as mais miseráveis e quererem mudar o mundo para que todos sejam. Ou terem uma máscara tão frágil que precisam de “ser levados ao colo”, porque a máscara quebra à mínima coisa que acham que está mal no mundo.

            Após muitos meses a pensar sobre isto, cheguei à conclusão de que ter máscaras é saudável, até um certo ponto. Primeiro, é impossível ser-se perfeito e somos todos tão diferentes, então como é que podemos socializar? Tendo uma máscara com o nosso lado positivo, apenas mostramos isso, tentando criar harmonia na sociedade. Ou seja, a nossa máscara tem de ter o que a sociedade gosta, o que é fácil de compreender, o positivo apenas, isto falando apenas da maneira de ser, porque a máscara vai muito para além disso. Eu costumava ver isso como “fazer o que a sociedade quer que nós façamos”, agora vejo como “criar harmonia e bom ambiente, visto que temos de passar tempo juntos”; segundo, também é saudável porque as pessoas projetam as suas experiências, traumas,... umas nas outras, então temos de garantir que estamos protegidos pela nossa máscara. A pessoa está a criticar a máscara, não a mim, então a máscara é algo que funciona como um mecanismo de defesa; terceiro, através dessa máscara que usamos acabamos por encontrar as “nossas pessoas”, com quem podemos tirar a máscara e ser reais, isto é, expressarmo-nos sem sermos julgados, criticados,...

 

            Eu sinto que muita gente vê este tipo de máscara como algo mau, mas, do meu ponto de vista, é algo bastante bom, porque cada pessoa tem o seu caminho, tem a sua evolução, as suas experiências, opiniões,... e é impossível conseguirmos ser todos amigos. E, até um certo ponto, ter uma máscara é saudável. Do meu ponto de vista, deixa de ser saudável a partir do momento em que nunca a tiramos e acreditamos que ela é a nossa pessoa.