Ontem fui a mais uma aula de condução. A quarta, para especificar. Mas vou começar pelo início. As primeiras duas não foram nada de mais, dentro de um parque de estacionamento, com exercícios muito dentro daquilo que eu esperava ser pedido a quem nunca havia sequer tocado num volante. Porém quando cheguei ao ponto de encontro no dia da terceira lição apercebi-me logo de que era desta que me ia pôr a “andar” (a conduzir, note-se) na via pública.
Banco ajustado, espelhos direitinhos, cinto posto e motor a
trabalhar. Calmamente o instrutor diz-me para pôr a primeira e eu bloqueio. Dei
uns dez segundos a mim mesma, durante os quais ele pacientemente esperou sem dizer
uma única palavra. Mas foi assim que o carro avançou cinco metros que eu sabia
que esta aula ia ser uma experiência desconfortável. Para mim e para o
instrutor, preocupava-me.
Se excluir o aterrorizante estacionamento em espinha que,
apesar de ter corrido muito bem, tive de executar demasiado cedo para o meu
gosto, a cada mínima coisa que fazia saíam-me uns monossilábicos “ahhh”, “naaaa”
ou “ehhh”. Ou então repetições apressadas do que me foi pedido (“Á esquerda, à
esquerda, vira, vira, vira.”). É claro que no fim da lição, com o Renault imobilizado
em segurança, ouvi das boas. Para resumir as palavras do instrutor, eu não
tenho paciência nem comigo, com o carro ou com ninguém. “Se não te acalmares para
conduzir nas próximas aulas é melhor fazermos um bocadinho de yoga antes de
entrarmos no carro!” foi outra que ouvi.
Voltando à aula de ontem, fiz o meu caminho até à escola de
condução muito calma, depois de dias a preparar-me para agir a maior calma
possível. Dei o meu melhor para ficar calada durante a aula, só abrindo a boca
para perguntar o necessário. Após um silencioso passeio pelo trânsito das ruas
de Almada à hora de ponta, parei o carro e esperei pelo feedback da aula. Para
minha surpresa, ele veio com a mesma conversa de que eu não tenho calma nenhuma
e faço tudo com “uma pressa de quem não vai ver o amanhã”.
Após o choque inicial, pois achava que tenha feito um
excelente trabalho em parecer relaxadíssima, veio-me à cabeça que se há coisa
que os instrutores melhor sabem fazer é avaliar a nossa condução. Num exercício de autorreflexão percebi que estar
caladinha e com cara séria, mesmo que com a máscara posta, nunca ia adiantar
nada se a cada mudança que punha me virava toda para a direita e puxava com
força e me contraía os braços de maneira ridícula sempre que recebia nova indicação.