Grande parte das sociedades modernas humanas possuem um tipo de relação interpessoal entre duas pessoas, e exclusivamente as duas, um pouco mais próxima do que com os restantes membros da sociedade. Quer esta relação seja apenas aceite pela comunidade, oficializada em papeis de casamento ou reconhecida por um deus, é-me interessante o quão comum é nos seres humanos quando inicialmente parece contra-intuitiva para produzir uma grande quantidade de descentes para continuar a espécie.
Chegamos às pseudo-conclusões filosóficas e
sentimentais de almas gémeas e duas pessoas com personalidades e circunstâncias
de vida compatíveis, e as realísticas reacções químicas cerebrais no hipocampo,
hipotálamo e no córtex.
Tentar definir as relações humanas já é difícil o
suficiente, outra questão, talvez não tão avassaladora é se o desejo por monogamia,
como o reconhecemos por amor romântico exclusivo, é apenas um fenómeno da
natureza, com razões biológicas de sobrevivência ou prosperidade da espécie, ou
algo cultural, que aconteceu permear por grande parte das sociedades humanas?
Biologicamente o objectivo de todos os seres vivos é
reproduzirem-se e manterem a espécie em existência e continuidade, vários
factores pendem a balança para a melhor chance de descendentes saudáveis estar
no acasalamento monogâmico, incluindo a escolha de apenas um parceiro
considerado completamente apto para a concepção de filhos, acesso a recursos e
cuidados parentais partilhados, visto que o ser humano exige um período de
tempo maior e maior valor nutricional para o seu desenvolvimento. A evolução e
persistência da monogamia eram uma questão de sobrevivência dos descendentes,
era uma consequência do crescente sucesso do foco de recursos na prole em vez
de o macho da espécie ir procurar outras companheiras.
No entanto, este já não é o caso actual das sociedades
humanas, com a maior organização das pessoas, aumento da inteligência e uma muito
melhor sociabilidade estes motivos encontram-se sem força.
E aí entram as questões da monogamia com vertente
cultural, visto que ela se desenvolve em contextos geográficos, políticos e económicos
diferentes, mesmo assim grande parte destes contextos são fruto de processos da
cultura, independentes do sucesso reprodutivo da espécie.
Com o avança da sociedade de nómadas para sedentarismo,
com o desenvolvimento da agricultura e da possessão de bens surgiu o conceito
de propriedade privada, coisas (objectos, animais, terras) que pertencem a um
alguém, e esta propriedade era para ser mantida com o seu dono e as pessoas
próximas a ele, então o parceiro sexual, social e emocional preferido tornou-se
uma forma de manter a propriedade dentro do grupo confiado, da família.
Até com a crença em deuses e a existência de certas
igrejas organizadas se levantou a questão da moralidade, que a monogamia e os
valores humanos interceptam-se.
A monogamia não está inscrita no nosso ADN, não está
escrita na nossa pele ou é ordenada por todos as sociedades humanas, no entanto
é um fenómeno claro da natureza humana, quer seja biológica ou cultural. Não
sabemos se é desejo ou se é obrigação social, é o sonho mais profundo de uns e uma
ideia rejeitada por outros, não se sabe completamente a razão, e as razões que
temos tornam-se cada vez mais escassas, por isso pergunto: se não é nada, será
amor?