segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Os segredos do rosto

  

Quando nos referimos à sociedade referimo-nos a um todo, no entanto, esquecemo-nos muitas vezes que cada um de nós é o reflexo desse todo. Quando eu falo aqui de sociedade, falo de mim, e de cada um de nós em particular.

A sociedade Humana distingue-se da sociedade animal pela cultura, o que possibilita a transmissão de conhecimento, informação e educação á próxima geração. Isto permite que eu pense em mim e na minha vida quotidiana, conseguindo refletir sobre os meus costumes, conhecimentos, línguas, tradições, cultura e relacionamentos. Reflito sobre os meus atos, sobre a minha comunicação, e vejo em mim muito do que vejo nos outros. Questiono-me sobre a mentira, a verdade, sobre o que é ou não real. Será que a palavra máscara que tão bem define a sociedade, ilude uns e outros sobre a verdade nua de cada um de nós?

Ao pensarmos no significado da palavra máscara vemos que esta é vista como um modo de nos escondermos, protegermos, ou mesmo de iludirmos nos outros algo que não somos, não sentimos ou não pensamos verdadeiramente. Ao longo dos tempos o termo máscara é utilizado para denominar um acessório que cobre o rosto. Mas não será o rosto o espelho de quem nós somos realmente? Será que nenhum de nós transmite o que realmente é? O que escondem as nossas roupas, o nosso especto ou as nossas próprias palavras?

Estas questões induzem-nos a refletir até que ponto não estaremos intimamente envolvidos com esta palavra tão particular que parece já fazer parte de cada um de nós.

 O termo máscara marcou o ano de 2020 e tornou-se numa palavra chave que o definiu. No entanto, esta já nos persegue desde os primórdios dos tempos, não apenas como modo de proteção ao nível da saúde, ou de disfarce carnavalesco, mas principalmente como forma de esconder o nosso próprio “eu “quando confrontado com a sociedade. As nossas fraquezas, dúvidas, frustrações, tristezas, crenças e alegrias são muitas vezes omitidas por esta máscara que criamos.

Cada um de nós já colocou uma máscara e interpretou um certo papel num certo momento da sua vida, tanto para sua proteção como para a dos outros. O pai sem medos, a amiga feliz, a família funcional, os amigos festeiros. Todos nós procuramos transparecer algo para a sociedade, e até para nós mesmos. Moldamos a nossa personalidade, a nossa forma de vestir, a nossa linguagem corporal e linguística á máscara que queremos mostrar ao mundo e a nós próprios.

 Não precisamos de ir muito longe, basta abordarmos o alicerce das relações interpessoais que é a base de uma sociedade, a comunicação, sendo que a mesma parte da linguagem Humana, um dos elementos fundamentais em cada um de nós. Ao estudarmos a linguística através de Saussure apercebemo-nos da existência do termo signo que segundo a sua definição clássica seria qualquer coisa que substituiria outra coisa. Nesta linha de pensamento, tal como a máscara, as próprias palavras substituem algo sem o ser realmente o que nos leva a crer que até a comunicação baseia-se num artificio ficcional. Serão as próprias palavras uma máscara para o real?

Esta reflexão leva-me a acreditar que o tema aqui abordado, máscara, está intimamente relacionado com cada um de nós, fazendo parte do jogo das relações interpessoais ao estar na base de algo tão essencial como a linguagem e comunicação humana.