Quando nos
referimos à sociedade referimo-nos a um todo, no entanto, esquecemo-nos muitas
vezes que cada um de nós é o reflexo desse todo. Quando eu falo aqui de sociedade,
falo de mim, e de cada um de nós em particular.
A sociedade
Humana distingue-se da sociedade animal pela cultura, o que possibilita a
transmissão de conhecimento, informação e educação á próxima geração. Isto permite
que eu pense em mim e na minha vida quotidiana, conseguindo refletir sobre os
meus costumes, conhecimentos, línguas, tradições, cultura e relacionamentos. Reflito
sobre os meus atos, sobre a minha comunicação, e vejo em mim muito do que vejo
nos outros. Questiono-me sobre a mentira, a verdade, sobre o que é ou não real.
Será que a palavra máscara que tão bem define a sociedade, ilude uns e
outros sobre a verdade nua de cada um de nós?
Ao pensarmos
no significado da palavra máscara vemos que esta é vista como um modo de
nos escondermos, protegermos, ou mesmo de iludirmos nos outros algo que não somos,
não sentimos ou não pensamos verdadeiramente. Ao longo dos tempos o termo
máscara é utilizado para denominar um acessório que cobre o rosto. Mas não será
o rosto o espelho de quem nós somos realmente? Será que nenhum de nós transmite
o que realmente é? O que escondem as nossas roupas, o nosso especto ou as
nossas próprias palavras?
Estas questões
induzem-nos a refletir até que ponto não estaremos intimamente envolvidos com
esta palavra tão particular que parece já fazer parte de cada um de nós.
O termo máscara marcou o ano de 2020 e
tornou-se numa palavra chave que o definiu. No entanto, esta já nos persegue
desde os primórdios dos tempos, não apenas como modo de proteção ao nível da
saúde, ou de disfarce carnavalesco, mas principalmente como forma de esconder o
nosso próprio “eu “quando confrontado com a sociedade. As nossas fraquezas, dúvidas,
frustrações, tristezas, crenças e alegrias são muitas vezes omitidas por esta máscara
que criamos.
Cada um de nós
já colocou uma máscara e interpretou um certo papel num certo momento da sua
vida, tanto para sua proteção como para a dos outros. O pai sem medos, a amiga
feliz, a família funcional, os amigos festeiros. Todos nós procuramos
transparecer algo para a sociedade, e até para nós mesmos. Moldamos a nossa
personalidade, a nossa forma de vestir, a nossa linguagem corporal e
linguística á máscara que queremos mostrar ao mundo e a nós próprios.
Não precisamos de ir muito longe, basta
abordarmos o alicerce das relações interpessoais que é a base de uma sociedade,
a comunicação, sendo que a mesma parte da linguagem Humana, um dos elementos fundamentais
em cada um de nós. Ao estudarmos a linguística através de Saussure apercebemo-nos
da existência do termo signo que segundo a sua definição clássica seria
qualquer coisa que substituiria outra coisa. Nesta linha de pensamento, tal
como a máscara, as próprias palavras substituem algo sem o ser realmente o que
nos leva a crer que até a comunicação baseia-se num artificio ficcional. Serão
as próprias palavras uma máscara para o real?
Esta reflexão
leva-me a acreditar que o tema aqui abordado, máscara, está intimamente
relacionado com cada um de nós, fazendo parte do jogo das relações
interpessoais ao estar na base de algo tão essencial como a linguagem e
comunicação humana.