terça-feira, 13 de outubro de 2020

Simpatia moral

Por vezes não me apetece rir por simpatia, não me apetece concordar ou conversar por simpatia, não digo necessariamente que me sentiria melhor por ser “mal-educada”, pelo contrário, apesar de ter a escolha e a opção de não demonstrá-la, acabaria por me sentir mal ao fazê-lo.

Estas crenças e ideais sociais, da ação “simpática” não passam de uma espécie de moral, não só para que os outros se sintam bem, mas ainda mais para que nós nos sintamos bem connosco próprios. 

Ao contrário, de Narciso, não necessitamos que a simpatia, ao invés da beleza, se separe do nosso corpo, não queremos esta qualidade no outro, mas sim em nós.

Claro que se não existissem estas crenças culturais não existiria a “sociedade”, estas relações são a base para que esta possa existir, mas por vezes tenho vontade de quebrar estes ideais de que me sinto obrigada a cumprir.

Surgiu então a seguinte questão, “a simpatia é a pessoa, está na pessoa ou está nos olhos de quem vê?”

Esta “simpatia”, que tanto confundi como automática e natural, começou a parecer-se também como uma obrigação, por um lado pode ser forçada, como por outro, pode ser natural. Esta ideia levou-me a comparar o choro com a simpatia. Embora ambos possam ser falsos/forçados, chorar é uma emoção, comum a todos e que não depende da cultura para que aconteça, enquanto que a simpatia, embora possa ser designada como um sentimento, na minha perspetiva é mais uma qualidade.

Esta qualidade, é-nos imposta pela interpretação de outros, seguindo os seus critérios, construídos ao longo da vida, influenciados pela cultura, pela educação, pelas experiências, pela sociedade, etc. Embora tal como o conceito de beleza, simpatia seja também universal, isso não significa que a maneira como é expressa/vista seja igual para todos. 

Partindo da ideia inicial de que a máscara é aquilo que podemos usar para esconder ou mostrar algo diferente do que sentimos ou somos, considero então que a simpatia possa ser uma das várias máscaras que construímos.