Já não durmo faz hoje cinco dias. Chego à noite com sede de descanso e é sempre cedo que me deito. Fecho os olhos e a minha cabeça não pára “será que tranquei o carro?”, “esqueci-me de devolver aquela chamada outra vez… E de pôr a máquina a lavar”. Em seguida vem mais um episódio de: Vamos Lá Relembrar Todas As Vezes Que Respondi “Boa Tarde” Quando Me Disseram Bom Dia ou Disse Acidentalmente “obrigada para si também” Quando o Empregado Me Disse Bom Apetite. Depois de uma grande luta comigo mesma e várias tentativas falhadas de respirar fundo e relaxar, são outra vez seis da manhã mas lá adormeço. Corro no sonho, acordo cansada. São oito da manhã quando me levanto para abrir os emails que já tinha aberto enquanto sonhava.
Passo o dia com o bater constante de duas pedras na cabeça e arrasto-me como fantasma pelas minhas tarefas naquilo que me parece um só dia infindável que dura faz agora uma semana. Tenho usado todo o meu tempo livre para ver filmes e pensar. Às vezes, no escuro, depois de tantas horas seguidas a viver em pequenos universos criados por artistas, sinto-me como se não tivesse mais certezas de nada. Vivo em períodos de (circa.) duas horas a possibilidade de ser tantas pessoas diferentes que levam vidas tão opostas! Fossemos nós peixes em memórias conscientes de ser humanos. Concluo que a realidade é pouco mais do que a nossa percepção da mesma. Posto isto, há algo de tranquilizante em saber não estamos sozinhos e que já se pensou muita coisa e se fez muita arte sobre as coisas que se pensou. Refugio-me no cinema por enquanto já que não consigo dormir (de momento recomendo o Nimas, no Saldanha, com o ciclo de cinema de Wong Kar Wai).