segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

“Não se nasce mulher, torna-se mulher “

O papel da mulher no mundo, a nível social, histórico e pessoal, é um tema que tem sido muito estudado e abordado por diversos pensadores ao longo dos tempos. A luta entre machismo e feminismo, a luta pelos direitos iguais, pela liberdade, independência e imposição da mulher face ao homem tem-se tornado cada vez mais forte e a própria mentalidade da mulher vai ficando mais ampla em relação a si própria com o passar dos tempos.

Apesar das diferentes culturas que existem no mundo, e dos diferentes papeis que a mulher desempenha nas mesmas, podemos considerar que em grande parte destas, a mulher era vista como “o outro “como diria Simon Beauvoir. A mulher teria sido feita para e a serviço do Homem, apenas se definindo em relação a ele. Não era independente ou livre, não tinha opção de escolha.

 Quando falamos de atitudes machistas, é preciso salientar que as mesmas não são exclusivas dos Homens situação que me deixa inconformada porque a própria mentalidade da mulher estava desenhada para aceitar estas condições. Ao longo dos tempos tem feito parte da História e da cultura passada de geração em geração, a ideia de que a mulher deveria de ser submissa ao homem, algo que era incutido desde o berço. A mulher crescia a aprender como servir o Homem, como realizar as lides domésticas, como cuidar dos filhos, como se tornar num próprio objeto sexual. E até certo ponto não o contestava, “Eis por que nelas a mulher não encontra motivo para uma afirmação ativa de sua existência: ela suporta passivamente seu destino biológico. Os trabalho domésticos a que está votada, porque só eles são conciliáveis com os encargos da maternidade, encerram.na na repetição e na imanência “( Simon Beauvoir , p.83 ) era a sua realidade, e segundo a sua cultura, o que estaria certo, sendo que maior parte das vezes a própria religião defendia essa perspetiva. Temos o exemplo da Bíblia, grande guia da religião portuguesa, onde a mulher não é criada ao mesmo tempo que o homem, primeiro Deus cria o homem e só depois a mulher a partir de uma costela de Adão, apenas para matar a sua solidão. O facto de crescerem com essas crenças, levou a que a própria mulher desenvolvesse um pensamento machista. Se pensarmos nas pessoas mais velhas que ainda nos rodeiam e que cresceram com este pensamento, assistimos não só nos homens, mas nas próprias mulheres uma certa repulsa pela aquela que não cozinha para o marido, pela que foi trabalhar enquanto que o homem ficou a cuidar dos filhos, pela que não constitui família etc. As mentalidades foram de tal forma implementadas na sua cabeça que elas próprias se condenavam ao serviço do Homem e vêm-se como seres inferiores.

            Hoje em dia, apesar de ainda haver uma grande discrepância em diversas culturas entre homens e mulheres, esta conseguiu, através de muito esforço, lutar pelos seus direitos e ter a possibilidade de escolher o próprio rumo na sua vida, já não é do Homem, mas sim de si mesma. É ás lutadoras dos diretos da mulher dos tempos de opressão da mesma que podemos agradecer hoje em dia crescer a pensar em nós próprias como um individuo dono de si mesmo, capaz de estudar, trabalhar e seguir o seu próprio sonho não como seres inferiores e meras escravas ao serviço do homem. Hoje em dia vivemos numa sociedade mais consciente e começamos a olhar-nos como iguais.

            Na realidade o homem e a mulher sempre andaram de mãos dadas e dependeram um do outro. A própria reprodutibilidade da espécie não se daria sem a existência de ambos. O pecado deu-se pela discrepância de importância que certas culturas colocaram entre ambos. Não é mentira que eles diferem em diversos aspetos que podem levar a pensar na existência de uma certa desigualdade, no entanto não deixam de possuir o seu valores e capacidades que os tornam humanos de igual para igual.

            Este texto procura salientar a importância do reconhecimento, não da parte do homem, mas sim da própria mulher em relação ao seu valor e á sua identidade individual. É no momento em que a mulher se deixa de ver como um ser inferior e serviçal e se passa a ver como ser capaz e singular, que a sua luta pela liberdade ganha voz, e ela própria se passa a reconhecer como um individuo capaz de ambicionar qualquer sonho e de partilhar as oportunidades de igual forma na sociedade pela sua capacidade individual e não pela barreira virtual homem/ mulher.

 

Bibliografia: Beauvoir, Simon (2015) O segundo sexo, Edição portuguesa, Quetzal Editores