2. Um modo que está relacionado a práticas divisoras, onde o sujeito é dividido no seu interior em relação aos outros, e como essas práticas o objetivam e dividem (como louco ou são, doente ou sadio. Este modo leva a um terceiro —
3. Para usar as formas de resistência contra as diferentes formas de poder. Seria como reconhecer o campo de forças que forma, por exemplo, determinado dispositivo na sociedade.
Por um dispositivo contar com inúmeras forças mutáveis e instáveis e pela sua confrontação ser inevitavelmente tensa, devido aos efeitos de resistência que ela cria, torna incerta a estabilidade de um dispositivo e produz a necessidade de rearticulações constantes na sua configuração gerando assim fissuras no estados de dominação que tal dispositivo gera (Weinmann, 2006). Podemos afirmar que esta nova perspetiva de Foucault é representada na mudança do foco da análise da sexualidade trazido pelo mesmo em “A vontade se saber” para um estudo e pesquisa de uma relação com o próprio, mediantes as quais os sujeitos modernos constroem a experiência de si próprios como sujeitos de sexualidade. Esse sujeito submerso no poder que busca capturá-lo procura encontrar um escape que só pode ser encontrado dentro desse mesmo poder.
A sociedade é formada por espaços variados onde as relações podem ser disciplinares, formalistas, normalizadoras e de controlo. Na entrevista A ética do cuidado de si como prática de liberdade de Foucalt (2010:267) diz que a libertação abre um campo para novas relações de poder que devem ser controladas por práticas de liberdade. Estabelecem-se assim relações de poder que resultam em formas de resistência. No caso, o poder não pode ser entendido como negativo bem como a resistência como uma tentativa de libertação ao poder. Não é certo nem linear que seja contra o poder que começam as lutas mas sim contra algum efeito produzido por esse mesmo poder e contra algum estado de dominação provocado por ele. Dessa forma, só existe poder porque existe resistência a ele. De outra forma seria apenas uma questão de obediência.
Porem não é um caso de causa/efeito: Esta resistência de que falo não é uma substância. Ela não é anterior ao poder que ela enfrenta. Ela é coextensiva a ele e absolutamente contemporânea”(Foucault, 1979: 241)
Com efeito, o acto de exercer poder sobre, só é possível a partir de um jogo de provocação em que ambas as partes (poder/resistência) contribuem.
Alterar a verdade do sexo ou da sexualidade é uma política de existência que leva a uma quebra na naturalização do género e nas dualidades e binarismos que sustentam práticas divisórias determinando espaços e maneiras de ser específicas na formação de subjetividades. A abstenção da causalidade do sexo, da sexualidade e do desenvolvimento psicossexual possibilita a criação de outras formas de agir e pensar, que constroem resistência perante processos de medicalização da conduta das mulheres, das crianças e dos prazeres em geral.
Com as contribuições de Foucalt no tema da sexualidade tornou-se possível discutir este tema de uma forma mais rica e abrangente e inúmeras possibilidades ficaram nas mãos dos que se interessam por estas questões. Desde o dispositivo de sexualidade até à sua discussão sobre a constituição do sujeito enquanto prática de cuidado de si torna a obra deste autor uma referência para aqueles que querem e se propõe a pensar a sexualidade fora dos padrões normativos que ainda marcam o pensamento e as práticas contemporâneas de análise a nível do género e da sexualidade. No que diz respeito ao dispositivo da sexualidade na constituição dos modos de existência, em especial, por meio dos atravessamentos de género e sexualidade, é possível afirmar, como Foucault (1995: 10) que Talvez, o objetivo hoje em dia não seja descobrir o que somos, mas recusar o que somos. Temos que imaginar e construir o que poderíamos ser para nos livrarmos deste “duplo constrangimento” político, que é a simultânea individualização e totalização própria às estruturas do poder moderno.
FOUCAULT, Michel. O sujeito e o poder. In: Dreyfus, H. L. &Rabinow, P. Michel Foucault: uma trajetória filosófica: para além do estruturalismo e da hermenêutica,1995.
FOUCAULT, Michel.História da sexualidade. Vol. I: A vontade de saber.
WEINMANN, A.Dispositivo: um solo para a subjetividade. In: Psicologia & Sociedade.
